O Estado angolano, através da Sonangol, detém participações em vários bancos nacionais e estrangeiros, incluindo uma posição de 14,87% do capital social do banco Millennium BCP. O Presidente angolano, João Lourenço, ordenou uma avaliação às participações detidas pelo Estado ou empresas públicas em bancos nacionais e estrangeiros, incluindo o Millennium BCP, a realizar por um grupo de trabalho liderado pelo ministro das Finanças.
Para o efeito, conforme despacho presidencial de final de dezembro a
que a Lusa teve hoje acesso, o chefe de Estado criou um grupo de trabalho que
tem 45 dias para, igualmente, efetuar um "diagnóstico de avaliação"
às instituições financeiras bancárias públicas e para "definir uma
metodologia para a reestruturação" das mesmas.
Este grupo de trabalho, liderado pelo ministro Archer Mangueira, vai
igualmente "proceder à avaliação de todas as participações sociais detidas
pelo Estado, empresas públicas ou empresas de domínio público em instituições
financeiras bancárias nacionais e estrangeiras", determina o despacho.
O Estado angolano, através da Sociedade Nacional de Combustíveis de
Angola (Sonangol), detém participações em vários bancos nacionais e estrangeiros.
Em Portugal, a Sonangol detém uma posição de 14,87 por cento do capital
social do banco Millennium BCP, que representava, em 2016, uma perda potencial
de 365,7 milhões de euros, face ao investimento inicial.
No relatório e contas de 2016 da Sonangol, então liderada pela
empresária Isabel dos Santos, recorda-se que o investimento da petrolífera no
banco português começou em 2007, então com 180 milhões de ações (que no final
de 2015 chegaram a cerca de 10.530 milhões), inicialmente no valor de 525,6
milhões euros.
Dez anos depois, o saldo desse investimento representa um "justo
valor", nas contas de 2016, de 150,4 milhões de euros, contra o saldo
inicial de 516,1 milhões de euros nas contas do final de 2015, além de um peso
na estrutura acionista que passou de 17,84% (2015), para 14,87%, devido ao
aumento de capital realizado pelo Millennium BCP.
Em dezembro de 2016, a então presidente do conselho de administração da
Sonangol, Isabel dos Santos, confirmou que a petrolífera pediu um reforço da
participação no capital do Millennium BCP, cujo maior acionista passou a ser o
grupo chinês Fosun.
"A participação da Sonangol no banco Millennium BCP continuará e
foi efetuado um pedido de reforço da participação da mesma", disse Isabel
dos Santos, que foi exonerada do cargo na petrolífera a 15 de novembro, pelo
novo Presidente angolano, João Lourenço.
O grupo de trabalho agora criado integra ainda o secretário para os
Assuntos Económicos do Presidente da República, a secretária de Estado para as
Finanças e Tesouro, e um vice-governador Banco Nacional de Angola.
Nas reuniões deste grupo poderão ainda participar, como convidados e
sem direito de voto, os presidentes da Comissão de Mercado de Capitais, da
Bolsa de Dívida e Valores de Angola, da empresa estatal Recredit e dos bancos
de Desenvolvimento de Angola (BDA), de Poupança e Crédito (BPC) e de Comércio e
Indústria (BCI).
A sociedade pública angolana Recredit anunciou em agosto último que
prevê alargar a compra de crédito malparado a mais quatro bancos comerciais,
por 765 milhões de euros, depois de já ter acertado a aquisição com o estatal
Banco de Poupança e Crédito (BPC).
Segundo informação prestada pelo presidente do conselho de
administração da Recredit, Vicente Leitão, aquela sociedade está a negociar a
aquisição do crédito malparado de cinco bancos comerciais angolanos, além do
BPC também o BCI, Banco Angolano de Investimentos (BAI), Banco Keve e Banco de
Negócios Internacional (BNI).
No entanto, o administrador afirma que a instituição não é um
"banco mau", por não comprar ativos para vender, mas sim para
recuperá-los, em termos do interesse da economia nacional e não apenas do
interesse financeiro.
"Não somos um banco mau. Não compramos para vender. Comprámos para
transformar", afirmou na quarta-feira, em Luanda, Vicente Leitão.
A Lusa noticiou a 19 de julho que Angola prevê a emissão de dívida
pública em moeda nacional para financiar nova compra do crédito malparado na
banca, elevando a fatura da operação, desde dezembro último, a cerca de 2.000
milhões de euros.
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